Nuit & Hadit: A dança cósmica
1. Had! A manifestação de Nuit.
CCXX I:1
A teogonia de nossa Lei é inteiramente científica. Nuit é Matéria, Hadit é movimento, no completo senso que a Física dá aos termos. (O próton e o elétron, no senso metafísico, sugerem analogias estreitas). Eles são o Tao e o Teth da filosofia chinesa: ou, para colocar a coisa muito simplesmente, o Nome e o Verbo da gramática. Nossa verdade central além de outras filosofias, é que estas duas infinidades não podem existir à parte.
— Marcelo Ramos Motta, 1975 comento no Liber AL vel Legis
Imagine que tudo ao seu redor seja feito de uma "coisa" — essa coisa é o que chamamos de matéria. Matéria é qualquer coisa que tem peso e ocupa espaço. Ela pode ser tão pequena quanto o pó que você vê flutuando em um raio de sol ou tão grande quanto uma montanha. Na física, os cientistas estudam a matéria para entender do que ela é feita e como ela se comporta.
Agora, movimento é sobre como a matéria muda de posição. Quando você joga uma bola, anda de bicicleta ou observa um pássaro voando, está vendo matéria em movimento. A física analisa o movimento para entender para onde as coisas vão, quão rápido elas se movem e por que mudam sua velocidade ou direção. Acontece que algumas regras simples, como as explicadas por Isaac Newton, são muito boas para descrever, por exemplo, por que uma bola diminui a velocidade quando rola sobre um tapete ou por que um foguete decola rumo ao espaço.
Então, em termos leigos: matéria é toda a "coisa" ao nosso redor, desde as menores partículas até os maiores objetos, e movimento é simplesmente essa coisa mudando de lugar. A física utiliza observações cuidadosas e regras — como a gravidade, que puxa as coisas para baixo — para explicar como a matéria se move e interage com outras matérias, ajudando-nos a entender desde eventos cotidianos até o comportamento de estrelas e galáxias.
Em Thelema, Nuit e Hadit não são apenas divindades — são símbolos do infinito e da centelha dinâmica da existência, e alguns encontram paralelos intrigantes entre esses conceitos e ideias da física, como matéria e movimento.
1. Matéria como o Tecido Infinito de Nuit:
Na física, a matéria é a substância que preenche o universo — tudo o que tem peso e ocupa espaço. Na imagem thelêmica, Nuit é retratada como o vasto céu estrelado, a imensidão noturna que contém tudo em seu interior. Assim como a matéria no mundo físico, Nuit representa a totalidade da existência, o campo abrangente de potencial do qual tudo emerge. Assim como a matéria forma a “tela” do cosmos, Nuit é vista como o campo envolvente de possibilidades infinitas.
2. Movimento como a Centelha Dinâmica de Hadit:
O movimento na física está fundamentalmente ligado à mudança — o deslocamento, o fluxo e o desenrolar dinâmico da matéria ao longo do tempo. Hadit, no pensamento thelêmico, é a centelha central, ponto em constante movimento e energia. Ele simboliza o fogo interior, a força motriz que anima a criação. Dessa forma, o movimento pode ser visto como análogo a Hadit: é a centelha que anima a tela estática da matéria (ou Nuit), transformando potencial em eventos reais, assim como Hadit é dito ser a presença constante e ativa no cerne de cada indivíduo e de cada momento.
3. Uma Dança Unificada:
Assim como a matéria e o movimento estão profundamente interligados no universo físico (você não pode ter matéria sem movimento — pense nas interações regidas por forças e energia), Nuit e Hadit em Thelema são duas metades de um todo interdependente e misterioso. Nuit guarda o potencial infinito, enquanto Hadit dá expressão a esse potencial, movendo-o para novas formas e experiências. Em ambas as visões, o cosmos é uma dança entre substância e energia, estabilidade e mudança — seja observando as estrelas ou meditando sobre os símbolos divinos.
Interpretar essas conexões é um ato criativo que faz uma ponte entre a ciência e o misticismo. Enquanto a física explica o movimento e a matéria por meio de leis observáveis, o simbolismo thelêmico oferece uma visão poética de um universo infinito, animado por um fogo interior. Ambas as perspectivas nos convidam a maravilhar-nos com o mistério da criação: uma por meio da linguagem da ciência e a outra através da linguagem da percepção espiritual.
— Pensemos na vivência de ser conduzido! Perguntemo-nos: em que consiste esta vivência quando, por exemplo, somos conduzidos por um caminho?
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— Imagine estes casos:
Você é levado a uma praça de esportes, talvez de olhos vendados, guiado pela mão de alguém, ora para a esquerda ora para a direita; você deve aguardar sempre o puxão da mão e também prestar atenção para não tropeçar com um puxão inesperado.
Ou então: você é conduzido pela mão por alguém com força para onde você não quer ir.
Ou: você é guiado por um parceiro em uma dança; você se torna o mais receptivo possível para adivinhar a sua intenção e obedecer a mais leve pressão.
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Ou: alguém o leva a passear por uma calçada; ambos vão conversando; por onde quer que ele vá, você vai também.
Ou: você vai ao longo de um caminho do campo e se deixa levar por ele.
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— Todas essas situações são semelhantes; mas que vivências elas tem em comum?
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Wittgenstein, Investigações Filosóficas
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