
D.O.M.A.65
X
Assim falou Zaratustra ao seu coração quando o sol ia em meio do seu curso;
depois dirigiu para as alturas um olhar interrogador, porque ouvia por cima de si o grito penetrante de uma ave.
E viu uma águia que pairava nos ares traçando largos rodeios e sustentando uma serpente que não parecia uma presa,
mas um aliado, porque se lhe enroscava ao pescoço. “São os meus animais!” — disse Zaratustra, e regozijou-se intimamente.
“O animal mais arrogante que o sol cobre e o animal mais astuto que o sol cobre saíram em exploração.
Queriam descobrir se Zaratustra ainda vivia. Ainda viverei, deveras?
Encontrei mais perigos entre os homens do que entre os animais; perigosas sendas segue Zaratustra. Guiem-me os meus animais.”
Depois de dizer isto, Zaratustra recordou-se das palavras do santo do bosque, suspirou e falou assim ao seu coração:
“Devo ser mais judicioso! Devo ser tão profundamente astuto como a minha serpente.
Peço, porém, o impossível; rogo, portanto, a minha altivez que me acompanhe sempre a prudência!
E se um dia a prudência me abandonar — Ai! Agrada-lhe tanto fugir! — possa sequer a minha altivez voar com a minha loucura!”
Assim começou o ocaso de Zaratustra.